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quinta-feira, 23 de setembro de 2010


geralmente é assim.

eu quase nunca preciso pegar ônibus e nenhum outro transporte público. tenho sorte ,sou freelancer e todos os meus jobs , no caso filmes , as bases são perto de casa, quando eu digo perto , são perto mesmo.

quando não, uso o carro da produção, mas toda vez que eu preciso pegar, e geralmente é ônibus, e geralmente é pico, e geralmente eu tenho um dia como o de hoje.

entro naquele ônibus lotado, pessoas suando e abusando do pequeno poder, que se resume a alguns centímetros de espaço.

hoje voltando de duas reuniões, sim porque o que mais fazemos no cinema além de debates, são as reuniões. hoje precisei de um transporte público, um ônibus no caso.

como havia dito no começo do texto , geralmente preciso quando é pico, quando estou cansadaça, e geralmente lotado, e geralmente luto com todas as minhas forças e espertice adquiridas em ficar com um olho no troco e o outro no pirulito, ou seja ligada para alguém sair e na sutileza me sentar no lugar da mesma. tudo na humildade , sem ficar com o sorrisinho bobo olhando na cara do looser, que perdeu a disputa pelo lugar. é uma disputa psicológica quase saudável. na luta de hoje , eu ganhei, geralmente é assim, mas geralmente entra um idoso logo na sequência , que vem na minha direção, e geralmente ele caminha e pára exatamente na minha poltrona. o meu impulso é de olhar no vidro para ver se peguei algum acento preferencial, checo e ok, estou no meu direito de cidadã, sem infringir lei alguma. mas não, aquele velho me olha como se eu fosse a culpada por todas as guerras civis , pela bomba de hiroshima, pela fome na etiópia e por não existir paz mundial.

hoje me fiz de autista, não ia dar o gostinho para o office boy que se digladiou comigo por aquele tão desejado acento. olhei bem fixamente para o vidro , aumentei o volume do som e fiquei ouvindo talo” kings of leon california waiting". fiz as contas, no ônibus cabem 35 pessoas sentadas e 45 em pé, ou seja, tirando eu e aquele ancião, são 78 pessoas para ele culpar pelas desgraças do mundo.

mas não, sou eu que tenho que me responsabilizar. não contente, o sabichão ancião, deu dois totózinhos no meu ombro , eu tirei o óculos de sol e olhei pra ele, e disse um texto com os olhos, não movi um músculo sequer, a não ser, o ocular. dizendo:

" - meu senhor, sou produtora de cinema nacional brasileiro. sacou? "

e o olhar dele me respondeu.

- meus pêsames.

e saiu andando procurando uma outra vítima disposta a se responsabilizar por todas as mazelas da humanidade.

3 comentários:

Fischer disse...

Exclente mau humor. Excelente!

lu lopes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
lu lopes disse...

a gente tenta tirar vantagem disso, ro. hehehe