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quarta-feira, 23 de março de 2011


durante muitos meses enxerguei cachos ou cabelos cheios, na padaria, nas livrarias , na
augusta e nos lugares que nós frequentávamos. virei uma especialista em cabelos cuidadosamente desgrenhados. procurei você em todos eles.
depois foi a fase da barba, sim ,porque depois de alguns meses achei que você poderia ter cortado o cabelo, então fiquei confusa, não sei se te reconheceria sem aquela juba de leão que você cultivava. não cortava nem quando o seu pai implorava para eu te convencer a tosar. ele nem imaginava para quem estava pedindo... eu amava aquele cabelo.
e depois foi a fase do carro, procurei o seu carro em todos os estacionamentos, sinais e noticiários, mas fiquei na dúvida da cor. era prata ou cinza?não sei porque sempre tive a intuição de anotar a placa, era como se eu não anotasse , não te acharia mais. aliás sempre me despedi de você , todos os dias quando você ainda estava dormindo.
era estranho no começo, mas depois virou um ritual, eu mapeava cada cômodo da sua casa para eu nunca mais esquecer, e não esqueci mesmo.
no começo eu rezava para não te encontrar, mas depois eu já estava indo até a missa só para ver você passar.
com o tempo, nem cachos, nem barba por fazer, nem carro , apenas o hiato e o medo de te esquecer de vez.
hoje te vi . sim, e era você mesmo. com a barba falhada, o cabelo cacheado e agitado , como sempre.
parei do outro lado da rua , acendi um cigarro e fiquei te observando calmamente.
você andava, falava ao celular e anotava alguma coisa freneticamente, e deixou a caneta cair.
eu poderia correr e atravessar a rua , pois o semáforo abriu, como se fosse um sinal, o sinal de que as minhas preces tivessem finalmente sido ouvidas.
sempre quis que esse reencontro fosse assim, casual. então continuei te olhando e não mexi um músculo, a não ser o ocular.
fiquei parada e tentando lembrar do seu rosto e imaginar com quem você estava falando e te fazendo sorrir.
reconheci a sua calça e pude até enxergar a sua mãozinha tão pequena , não lembrava com exatidão do formato das mãos.
e no meio da avenida paulista , tantas pessoas, tantos carros, tanta velocidade eu parei para te ver passar. agora toda vez que eu perceber alguém parado e observando algo na paulista, vou me arriscar a pensar que é pelo mesmo motivo que me coloquei hoje.
não corri, não gritei, não atravessei a rua correndo, apenas fiz o que estava acostumada a fazer desde do primeiro dia que te vi. me despedi.

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