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terça-feira, 3 de maio de 2011





a bela da tarde ou a bela tarde


sempre tive problemas em guardar certas datas , principalmente as importantes, tenho um bloqueio, não sei o que acontece, mas as esqueço.
de uns tempos pra cá tenho anotado algumas num calendário que tenho pendurado na cozinha, perto da pia.
e ontem marquei a data dois de maio de dois mil e onze. marquei porque sem dúvida foi um dia que nunca me esquecerei.
depois de alguns meses envolvida numa atmosfera fria , sem intensidade e pontuada por cruéis indelicadezas, onde a minha alma gritava por um pouco de afeto, mas o meu único e escolhido ouvinte se recusava a ouvir. não me culpo, não o culpo e não culpo a nós.
mas posso garantir que saí rouca dessa história, gritei até estourar todas as cordas vocais da minha inocência
depois de tudo , de tudo mesmo, aquele cara me liga e me convida para almoçar.
almoço para falar de trabalho e matar a saudade. - insistia ele.
ok, estou num job perto do shopping paulista e sugeri o próprio. tanto tempo sem nos encontrarmos , sem responder as suas amorosas mensagens , seus emails sempre tão afetuosos e suas insistentes ligaçoes .achei justo que eu esperasse pelo seu atraso de quarenta minutos.
nos esbarramos e o achei tão sereno , bonito e leve que até me perguntei se eu nunca havia reparado nele ou se ele havia se tornado assim tão interessante de uma hora para outra.
a nossa frequencia não estava combinando com aquele ambiente consumista e superficial, então ele sugeriu um café.
e foi naquele café da paulista com a carlos sampaio que escolhemos para colocar tanto assunto em dia. sem horários o nosso "almocaféjantar" parecia não ter hora para terminar.
nos conhecemos num bar a três anos e meio, lembrados por ele, porque eu jamais me lembraria da quantidade de anos e meses que se passaram desde o nosso último encontro.
e foi nesse bar entre um coltrane e outro, me lembro do seu comentário efuzivo sobre termos a mesma profissão.
foi legal te- lo conhecido, pena que eu não estava na mesma vibe que ele, na mesma intensidade, me lembro de estar focada em outras áreas da minha vida, e a afetiva estava na segunda gaveta a esquerda da mesa do meu escritório.
é interessante ver como essa vida é generosa , como ela é paciente e como o cronograma as vezes funciona.
depois de tanto tempo ele reaparece com a intensidade e a modulação exata que eu precisava, e como me fez bem ouvir ele falar de mim para mim.
me fez me sentir uma personagem de um filme francês,não sei porque mas adoro me sentir assim.
três anos e meio me esperando, e me ligando a todas as coisas boas que ocorreram na sua vida.
que coragem a dele de me ligar numa manhã nublada de maio, de insistir em gritar a sua intensidade para uma pessoa que se recusou a ouvir durante tanto tempo.
de falar sem medo, de abrir o seu coração e me fazer levantar várias vezes e ir ao banheiro enxugar as lágrimas que se esconderam nas lentes do meu óculos de sol.
agora não precisa gritar mais , pode falar bem baixinho que eu escuto.
e quando nos despedimos, andei umpouco e olhei para atrás, e ele estava parado como quem esperasse que eu retribuisse o olhar, depois de tantos anos esperando o mínimo de reciprocidade.
sem resistência, eu olhei.
essa vida vale a pena, e sem protocolos é melhor ainda.- disse ele no meu ouvido para a minha alma ouvir.