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domingo, 1 de março de 2009


dia estranho

dia desses voltando para a casa depois de um dia estranho de trabalho, um dia quente, onde tudo o que eu mais queria era voltar pra casa invisível, meu desejo era de não encontrar ninguém, absolutamente ninguém conhecido.
o trajeto que faço diariamente a pé ,decidi fazer de ônibus para chegar mais rápido e não ter que cumprimentar nem o cara da banca - que parece esperar o meu cumprimento para poder fechar aquela lata de sardinhas – letrada.
no ponto de ônibus um sr muito simpático puxa um assunto qualquer comigo:
- acho que vai chover . o que você acha?
putaquepariu, justo hoje que eu gostaria de ir para casa invisível – pensei eu
sorri educadamente e respondi concisamente:
- é ... acho que sim.
e a conversinha continuou ...
aí perguntou o meu signo, o meu time de futebol, a minha profissão.
acho que nem um psicólogo da FEBEM faria tanta pergunta a um recém internado.
enfim, dei “barda” ao bom e falante velhinho.
o ônibus chegou , tentei me perder na muvuca , mas não consegui , o velho tinha agarrado no meu braço para eu ajudá-lo a subir no ônibus.
ajudei –o e fui me distanciando, mas o desgraçado falava mais alto ainda para eu não sair de perto.
para a vergonha não ser maior e o ancião não passar a catraca atrás de mim, fiquei quieta e fingi prestar muita atenção no que aquele sacripanta falava.
e falava de deus , mas falava de uma maneira tão linda, numa fé tão infantil, que foi ali que me apaixonei por aquele pracinha tagarela.
quando ele percebeu que o ponto dele estava chegando ele perguntou rapidamente quantos anos eu tinha, e eu não respondi, é claro!
com certeza, ele iria repetir bem alto para que todos - inclusive os do último banco - ouvissem .
aí ele chutou uma idade quase adolescente e eu disse que não. e ele, muito simpático, disse que não era possível.
ponto para o velho xavequeiro outra vez.
ele me perguntou quantos anos eu achava que ele tinha.
eu fiquei sem resposta , porque o velhinho era muito matusalém, não queria magoá-lo.
então respondi:
- eu acho que menos de duzentos o sr tem.
ele deu uma puta gargalhada e falou que não existiam mais meninas com o meu bom humor.
disse depois que estava na flor dos seus 87 anos
me roubou um beijo na bochecha e saltou no próximo ponto.
foi tão romântico.
até hoje eu não sei se ele existia ou se foi pura imaginação do meu mau humor pós dia estranho.
com certeza tornou o meu dia menos estranho.

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